top of page
  • Instagram - Black Circle
  • LinkedIn - Black Circle
  • Facebook - Black Circle

Por que encontro esperanças em “O prisioneiro de Azkaban”

  • Foto do escritor: Letícia Garcia
    Letícia Garcia
  • 5 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 8 de out. de 2024

Releituras conseguem despertar em mim sentimentos para além da própria história, porque me carregam para minhas próprias memórias. E assim surgiram estes pensamentos, que compartilho abaixo, da última vez que reli “Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban”. CONTÉM SPOILERS.



Foi agora, durante a quarentena. Logo que a pandemia se alastrou e foi preciso o isolamento social, resolvi fazer o que chamo de “leituras de conforto”: releituras de livros de que gosto e que me fazem feliz. Então, em março, comecei a reler a série Harry Potter.

Certa noite, quando estava mais perto do final do livro, fiquei lendo até 1h30 da manhã — e fazia tempo, muito tempo mesmo, que isso não acontecia. Não é surpresa que o livro em minhas mãos fosse "Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban", meu livro preferido da saga de Rowling. Simplesmente não conseguia parar de ler.

Me peguei chorando quando o Sirius falou com o Harry na Casa dos Gritos sobre preferir ter morrido a trair os Potter, no momento em que o Harry finalmente acredita nele. Provavelmente eu tenha chorado também da primeira vez que li este trecho, lá em 2004. Mas talvez o motivo tenha sido outro.

Me forcei a fechar as páginas e desliguei a luz. Fiquei encarando o teto e falando sozinha sobre meus sentimentos a respeito de livros. Deste livro. Por que eu sinto esta sensação tão boa quando leio a saga de Rowling, e este livro em particular?

Acho que descobri o motivo.

Quando leio este livro, todas as minhas esperanças voltam.

A primeira vez que li "O prisioneiro de Azkaban" foi em uma época muito feliz. Não me entenda mal, falo isso sem saudosismo — não sou daquelas de viver no passado, não. Até fico irritada quando as pessoas ficam olhando infinitamente para trás, imaginando que nada de melhor nunca vai acontecer. Porque eu espero muito da vida, sim. Mas admito que, nos meus 13 anos, eu esperava infinitamente mais. E acho que é a retomada da lembrança dessa sensação de esperança ilimitada que me preenche sempre que releio estes livros.

Eu lembro da sensação.

Com 13 anos, minha vida toda estava pela frente. Eu não tinha uma vida perfeita, claro, mas eu tinha todo o tempo do mundo para alcançar o que quisesse. Meu futuro era um mar de possibilidades. E, o melhor, eu sabia aonde queria ir.

Eu tinha coisas que me faziam feliz ali naquele momento, sim, mas também tinha muito o que esperar. Com 13 anos, eu tinha descoberto o que me trazia alegria e podia alcançar essas pequenas coisas — uma leitura, uma conversa legal, uma noite de filmes com a família, escrever loucamente, ir bem em um teste da escola, decorar letras de músicas, ver séries, jogar videogame, passar pelo crush no corredor do colégio, encontrar os amigos e sentir a confiança deles... coisas básicas de uma adolescente.

Também tinha descoberto o que queria ser e fazer no futuro e tinha tempo para planejar e alcançar tudo isso. A vida, como diz o gritante clichê, era feita de páginas em branco para serem preenchidas por mim. E eu tinha muito com o que preencher essas páginas.

No fim, eu não chorava só pelo Sirius falando com o Harry. Eu chorava por uma mistura de encanto e surpresa ao reencontrar ali aquele meu outro tempo. Uma versão de mim que respirava futuro e sonhos, gigante em possibilidades.

A vida adulta tem a irritante mania de jogar a realidade na nossa cara o tempo todo. Hoje eu preciso pensar em pagar o aluguel e os boletos, nas possibilidades sobre o que fazer se algo que planejo der errado, em encher a despensa, em me manter segura, em se o cara novo do aplicativo de paquera que eu finalmente instalei é alguém confiável ou se vou precisar fingir que moro em outro ponto da cidade para evitar qualquer coisa... Com tudo isso, às vezes esqueço de pensar no futuro de possibilidades que ainda existem pra mim.

Claro que estamos em meio a uma pandemia, e falar em futuro assusta um pouco. É tudo muito incerto. E é exatamente por isso que me fez tão bem pegar o caminho de “O prisioneiro de Azkaban”. Porque evito entrar e ficar presa na espiral de pensamentos trágicos do que pode acontecer.

E foi isso, em primeiro lugar, que me levou a buscar de novo o aconchego das páginas de Harry Potter. Onde posso reencontrar a Letícia de 13 anos e os pensamentos que ela tinha então. Uma fonte a que posso voltar para alimentar a minha esperança — a partir daquela esperança infinita que um dia já tive.











*Repúdio total à J.K. Rowling e suas falas transfóbicas. Nem parece a mesma pessoa que escreveu Harry Potter. O sentimento como fã da saga é de decepção. Parei de acompanhar a autora, mas a minha ligação com os livros ainda existe, sim. Os significados construídos com a história permanecem para mim. Harry Potter já é muito maior do que sua autora.

Comments


Inscreva-se na newsletter

e não perca o próximo texto!

Nome

Email

© 2024 por Letícia Garcia. Todos os direitos reservados. A utilização de qualquer texto do site, mesmo que citada a fonte, só é permitida com o consentimento por escrito da autora.

Identidade visual por Cíntia Garcia. Orgulhosamente criado com o Wix.com

bottom of page