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Será que Patti sabe?

  • Foto do escritor: Letícia Garcia
    Letícia Garcia
  • 29 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de out. de 2024

“Este é o poder decisivo de uma obra singular: o chamado à ação. E eu, repetidamente, sou tomada por uma arrogância orgulhosa que me leva a acreditar que posso atender a esse chamado. 
As palavras à minha frente eram elegantes, cáusticas. Minhas mãos vibravam. Infundida de confiança, tive o ímpeto de sair correndo, subir as escadas, fechar a porta pesada que um dia foi dele, sentar diante do meu próprio monte de papel e começar meu próprio começo.”

Devoção, Patti Smith (Cia. das Letras, 2018, p. 122)


Foto Letícia Garcia

Patti Smith se tornou uma dessas escritoras para mim: que me faz querer largar o livro e sair correndo escrever. Será que ela sabe o quanto é inspiradora? Que sua obra é dessas singulares, sobre as quais ela mesma fala?


Sinto que eu poderia escrever o que quisesse e que conseguiria alcançar exatamente o que preciso apenas inspirada por ela. Ela, que me faz olhar para minhas próprias memórias e minha própria vida com o carinho de seu exemplo. Porque ler Patti é assim: é mergulhar nas experiências da própria autora, costuradas por suas reflexões. 


“Devoção” é um livro muito Patti, mas tem um algo a mais — o conto que forma a segunda parte do livro. É diferente das suas outras obras, muito mais autobiográficas, muito mais num tom de diário confessional. É uma outra Patti narrando a história de seus personagens. É lindo de ver. 


Mas esse lado de narradora da própria vida está lá e é o que abre o livro, falando também do seu processo de criação desse conto (e aqui ressoa o estilo de “Só garotos” e “Linha M”). Na última parte, por fim, uma reflexão sobre a escrita.


“Por que eu escrevo? Meu dedo, como uma caneta de ponta seca, retraça a pergunta no ar em branco. Um enigma conhecido, proposto desde a juventude, quando eu me afastava das brincadeiras, dos companheiros e do vale do amor, cingida de palavras, um passo fora do grupo.
Por que escrevemos? Irrompe um coro.
Porque não podemos somente viver.” (p. 124)


Demoro tanto a concluir qualquer livro dela porque não quero que acabem. Só com ela isso acontece, não sou assim com mais nenhuma outra escritora, não tem muita explicação. Imagino uma lógica inconsciente que me faz estender o tempo com ela. Não há livros suficientes de Patti neste mundo para saciar esta vontade de conversar com suas palavras. Só me resta voltar aos que existem e retomar diálogos, que acabam por ser sempre novos. 


Ler Patti também é entrar em contato com suas próprias referências de livros, filmes, músicas, teatro, lugares, arte. Tenho um marcador específico para destacar essas leituras de mundo pelo seu olhar, para voltar a elas em algum momento. A arte que inspirou Patti, que agora inspira tantas de nós. Quero ouvir suas histórias e aprender seus processos. É um caminho raro de encontrar. 


“Todos nós gostaríamos de acreditar que viemos apenas de nós mesmos, que cada gesto é todo nosso. Mas então descobrimos que nosso lugar é na história e no destino de uma longa fileira de criaturas que também podem ter desejado ser livres.” (p. 104)

Será que ela sabe? Espero que sim.

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