Do distanciamento
- Letícia Garcia
- 16 de jul. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de out. de 2024
Aqui vai uma crônica-relato sobre o distanciamento social e os meus limites recém-descobertos.
Parece que, afinal, as necessidades que vêm com o fato de sermos seres sociais não podem ser plenamente supridas pela tecnologia. Surpresa nenhuma, talvez? Mas confesso que estive, por mais de ano, apostando nessa possibilidade.

No dia em que posto este texto, estou com 30 anos, sem comorbidades ou prioridades na fila da vacina, o que quer dizer que sigo sem estar vacinada — o que, para mim, significa estar há 1 ano, 3 meses e 28 dias vivendo sob distanciamento social. Há exatos 42 dias, no entanto, é um distanciamento com concessões, que eu não me permitia fazer desde o início da pandemia.
Eu realmente estava saindo apenas para o necessário (lê-se mercado e médicos), trabalhando em home-office, abrindo raríssimas exceções a cada dois meses para ver pais e mana. Achava mesmo que conversas pelo celular conseguiriam dar conta da falta de contato humano. Mas morar sozinha no meio de um isolamento social provocado por um vírus perigoso é muito diferente de morar sozinha podendo sair e encontrar gente querida.
Sem que eu percebesse, o estresse provocado por diferentes áreas da vida, com o qual eu provavelmente conseguiria lidar numa situação normal, se amplificou. Nem os livros, pilares da minha força por mais de um ano de pandemia, conseguiam mais dar conta sozinhos da minha saúde mental.
Cheguei ao meu limite do isolamento social em maio. E (contraditória) o reflexo foi sumir: das redes sociais, deste querido projeto do site, das leituras coletivas e das conversas virtuais. Mantive apenas as obrigações. Passei por ondas de tristeza, raiva, desolação, até não dar mais para fingir que estava tudo bem. Até porque, mesmo quando tentei, meu corpo gritou — e a crise de gastrite veio.
Foi na terapia que percebi a dificuldade que tenho de pedir ajuda quando a questão não é prática — não é uma tomada sem funcionar, não é uma fonte com quem não consigo falar, não é um problema burocrático. Jurava que ia conseguir lidar com tudo sozinha. Mas, bem, não consegui. E sinceramente acho que ninguém consegue.
Depois que vi o caminho, finalmente pedi ajuda. E fui ajudada. O distanciamento físico não partiu os laços de afeto <3 Voltei a encontrar pessoas (que estão se cuidando, claro) de forma presencial, tendo como motivo essa necessidade não palpável: a emocional.
O episódio me fez reavaliar várias outras coisas e me mover para mudanças que eu ignorava até agora. Aprender pode mesmo ser uma constante, para quem está disposta. Venho me fortalecendo, agora olhando em alguns olhos sem ser por intermédio de uma tela, e sigo reconstruindo meus pedaços, que eu nem sabia estarem partidos.
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