Melhores trechos de “O hobbit” e como os livros podem unir as pessoas
- Letícia Garcia
- 26 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Ler e reler Tolkien é sempre bom, mas ler Tolkien em grupo é uma experiência incrível. Eu já gosto de clubes de leitura desde que tive a felicidade de entrar para o Tinha que Ser Mulher em 2018. Mas esta leitura coletiva de “O hobbit” surgiu para mim muito por acaso. Ou talvez a mesma sorte de Bilbo tenha trabalhando para nos reunir...
Conheci a Any, do IG Leia Antes de Morrer, em uma outra LC, com gente demais e envolvimento de menos. Ela citou Tolkien, eu acabei vendo e perguntei algo mais, ela respondeu e fomos conversar fora do grupo. A Any me contou da LC de “O hobbit” que estava organizando e claro que eu quis entrar para fazer essa releitura ♥
Durante os sprints, conheci pessoas muito legais, algumas tão apaixonadas por Tolkien quanto eu, outras muito mais, outras dispostas a conhecer a escrita do professor e todas querendo trocar ideias. Enquanto líamos essa história sobre mudanças, amadurecimento, coragem e amizade, vimos essa mesma amizade, tão prezada por Tolkien, florescendo ali entre nós. Gostei de cada minuto!
Leituras coletivas geralmente começam reunindo aqueles que buscam um incentivo para ler. Mas para mim, já leitora há anos, LCs são para compartilhar impressões sobre uma obra, fazer conexões entre as diferentes realidades e leituras possíveis daquele texto e, mais importante, encontrar pessoas que gostam de ler. E então amizades acabam nascendo entre palavras. Muito justo ter relido “O hobbit” numa LC, já que Tolkien — nesta e em todas as suas obras — fala lindamente sobre amizade.
Meus trechos favoritos e o que aprendi com eles (⚠️com spoilers⚠️)

“Foi neste ponto que Bilbo parou. Ultrapassá-lo foi o gesto mais corajoso de toda a sua vida. As coisas tremendas que aconteceram depois não eram quase nada comparadas àquilo. Lutou a verdadeira batalha sozinho no túnel, antes mesmo de perceber o enorme perigo que estava à sua espera” (Cap. 12)
— Sobre como as maiores lutas são travadas no interior de nós mesmos, nos momentos de tomada de decisão.
“‘Isso depende de sua sorte, coragem e bom senso, e estou mandando o Sr. Bolseiro com vocês. Já lhes disse antes que ele é mais do que imaginam, e logo descobrirão isso.” (Cap. 7)
— Sobre a importância do incentivo e da confiança de nossos amigos.
“Saber a verdade sobre o desaparecimento não alterou de modo algum a opinião deles sobre Bilbo, pois perceberam que o hobbit tinha certa inteligência, além de sorte e um anel mágico — e todas as três coisas são posses muito úteis.” (Cap. 8)
— Sobre como são vários os fatores que interferem no curso da nossa vida, alguns que dependem de nós e outros que estão totalmente fora do nosso controle.
“‘Adeus, meu bom ladrão!’, disse ele. ‘Vou agora para os salões da espera, sentar-me ao lado de meus antepassados, até que o mundo seja renovado. Já que abandono agora todo ouro e prata, e vou para onde eles têm pouco valor, desejo partir com a sua amizade, e retiro minhas palavras e ações junto ao Portão. [...] Há mais coisas boas em você do que você sabe, filho do gentil Oeste. Alguma coragem e alguma sabedoria, misturadas na medida certa. Se mais de nós dessem mais valor a comida, bebida e música do que a tesouros, o mundo seria mais alegre. Mas, triste ou alegre, agora devo partir. Adeus!” (Cap. 18)
— Sobre perdão, amizade e as coisas que realmente importam.
“Bilbo percebeu que chegara o momento de fazer alguma coisa. Não podia subir para atacar as feras e não tinha nada com que atirar; mas, olhando em volta, viu que naquele lugar havia muitas pedras no que parecia ser o leito de um riacho seco. Bilbo era ótimo em atirar pedras [...] — na verdade, sabia fazer um monte de coisas, além de soprar anéis de fumaça, propor adivinhas e cozinhar, que eu ainda não tive tempo de lhes contar.” (Cap. 8)
— Sobre como, às vezes, as nossas qualidades estão em lugares em que as pessoas não sabem apreciar ou que não notam de imediato porque o recorte em que estamos não nos favorece (e isso não quer dizer nos apegar ao já que sabemos, porque crescer e mudar sempre é possível — Bilbo que o diga —, mas em saber valorizar também o que já somos).
“É estranho, mas as coisas boas e os dias agradáveis são narrados depressa, e não há muito que ouvir sobre eles, enquanto coisas desconfortáveis, palpitantes e até mesmo horríveis podem dar uma boa história e levar um bom tempo para contar” (Cap. 3)
— Sobre escrever ♥
“Quando se parte para aventuras perigosas, além do Limiar do Ermo, até mesmo bons planos e magos sábios como Gandalf e de bons amigos como Elrond às vezes dão errado; e Gandalf era um mago sábio o suficiente para saber disso.” (Cap. 4)
— Sobre conhecer nossos limites e saber que não sabemos de tudo (obrigada, Gabi Scheitt, por destacar este trecho que me fez pensar).
“Uma coisa assim não acontecia desde que viera para a Montanha! Sua fúria ultrapassava qualquer descrição — o tipo de fúria que só se vê quando pessoas ricas, que têm mais do que podem apreciar, de repente perdem algo que possuem há muito tempo, mas que nunca usaram ou quiseram” (Cap. 12)
— Sobre o acúmulo desmedido de riquezas (incrível como é possível fazer paralelos).
“Como vocês podem ver, não era à toa que o Senhor conseguira aquela posição. O resultado de suas palavras foi que, por um momento, o povo esqueceu inteiramente a ideia de um novo rei e voltou seus pensamentos enfurecidos para Thorin e sua companhia.. Palavras rudes e amargas foram proferidas em todos os lados, e alguns dos que haviam cantado mais alto as antigas canções agora gritavam na mesma altura que os anões tinham deliberadamente incitado o dragão contra eles!” (Cap. 14)
— Sobre um homem de palavras maliciosas e com poder de manipular a população, e sobre palavras de ódio terem mais facilidade de reunir muita gente do que palavras de amor.
“Enquanto há vida há esperança!” (Cap. 13)
— Um lembrete final, tão necessário neste nosso tempo.
“O hobbit”, J.R.R. Tolkien (Martins Fontes, 2009, tradução de Lenita Esteves e Almiro Pisetta, revisão técnica e consultoria de Ronald Eduard Kyrmse)
Comments