Solitude
- Letícia Garcia
- 8 de jan. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 8 de out. de 2024
Janelas iluminadas numa noite de verão. Paredes manchadas de prédios antigos. Um buquê de antenas parabólicas num terraço repleto de entulhos. O zumbido do vento vindo do rio, à beira da grande cidade. Pessoas que se recolhem e ligam a TV. Pessoas que saem em busca da noite. Talheres sendo batidos, música atravessando a parede. Uma criança corre, batendo os pés no meu teto. Uma mulher gargalha, entrando pela minha janela. Mas, neste apartamento, solitude.
A consciência da própria presença. A relação de autoamor, diariamente construída. O pequeno espaço do apartamento não parece o bastante para conter essa expansão. Objetos e memórias, vultos de família e amigos se projetam. Vejo outros itens em seus lugares, que são espelhos de mim aqui.

Inseguranças abrem seu espaço na sala. Incertezas no futuro, financeiras, pessoais, todas espalhadas pelo tapete. Num canto do quarto, ainda encaixotadas, esperança, convicção, confiança. Abro espaço para elas, são necessárias para o caminho. Organizar a mente, erguer a mim mesma. Da cozinha, vem o cheiro de café que botei para passar. Mais som nenhum percorre as paredes.
A própria companhia, a mais esperada e ansiada. O silêncio preenchido pelos pensamentos. Os cheiros que são meus cheiros, a pele que é a minha. A poeira que assenta, a calmaria. A certeza do amor no lugar que o deixei, mas o renascimento no lar que construo. Para mim. Um apartamento no centro, um centro, meu centro, que encontro. Finalmente. Na solitude.
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