Um lugar dentro de mim

Nem sempre consigo ver beleza e alegria no momento presente. Há tanto erro e lamento a cada passo deste mundo, tanta injustiça, tanta dor. Então quando surge um instante em que as coisas parecem completamente bem e no lugar, é algo a se celebrar.

Quando eu mesma me basto, este respiro me basta, este céu nublado cheio de nuvens e réstias de sol são o bastante para sorrir. Quando encontro satisfação suficiente ao meu alcance. Quando o que me falta não parece demais, só um algo a mais que talvez chegue, talvez não, e tudo bem. Meu corpo me basta, meus pensamentos me preenchem, estou em paz comigo mesma. É raro, é lindo.

Quero segurar este instante, por isso escrevo estas palavras. Quero lembrar que existe este lugar dentro de mim em que todos os sentimentos são aceitos. Em que todos os sonhos são possíveis e talvez já estejam acontecendo. Em que as decisões têm pesos e importâncias proporcionais à realidade, nada além disso. Onde a culpa foi varrida pelo vento. Um lugar dentro de mim que me transborda nos melhores momentos, nos meus melhores momentos — nesses momentos.

E, mesmo que ninguém veja, eu me abraço e me alegro e sou feliz e sou completa amplitude. Porque nestes momentos eu consigo me perceber por inteiro e sinto o mais profundo, inexplicável e verdadeiro amor, que não depende de ninguém, apenas transborda de mim.

Tolkien escreveu: “É estranho, mas as coisas boas e os dias agradáveis são narrados depressa, e não há muito que ouvir sobre eles, enquanto coisas desconfortáveis, palpitantes e até mesmo horríveis podem dar uma boa história e levar um bom tempo para contar”. Por isso este texto é assim mesmo, desconexo e curtinho. Ao escrever, estou feliz por nenhuma razão e por todas as razões que tenho.