Sede de crônicas
- Letícia Garcia
- 19 de set. de 2021
- 2 min de leitura
Matéria sobre a Oficina Santa Sede, de Rubem Penz, publicada na seção “Livro” da Revista da Cerveja em 2015.
Oficina ministrada por Rubem Penz une o prazer da escrita ao ambiente descontraído do bar. As crônicas produzidas em aula são publicadas no livro “Santa sede — crônicas de botequim”, que em 2015 chega à 6ª edição.
Porto Alegre, Cidade Baixa, 20h. O bairro mais boêmio da cidade já está em seu agitado ritmo noturno, mesmo numa segunda-feira. Na sala 5 do bar Apolinário, uma enorme mesa quadrada se agita em conversas animadas e pedidos ao garçom. Enquanto isso, folhas impressas, com linhas numeradas, vão trocando de mãos. Pedidos feitos, o homem vestindo um chapéu pergunta: “Vamos começar?”. A mesa de bar se transforma, então, em oficina literária.
O homem do chapéu é Rubem Penz, escritor, publicitário, compositor e colunista do jornal Metro Porto Alegre. Desde 2008, Rubem ministra oficinas de crônicas, gênero tão ligado ao cotidiano que seu local de excelência é o jornal.
Estudando a grande geração de cronistas brasileiros, acabou percebendo que o caminho mais percorrido por eles era o que levava das redações aos botequins — e lá, encontrando-se, eles riam, bebiam e debatiam. “Era nos bares que colhiam os humores da cidade”, aponta Rubem. Em 2010, veio a ideia de levar a crônica de volta ao bar — e assim nascia a Oficina Santa Sede.
Na mesa

A escolha do nome foi fácil. A sede é o bar — até 2013, o Matita Perê, e dali para frente o Apolinário, ambos na Cidade Baixa, bairro porto-alegrense tão democrático quanto a própria crônica. A outra sede, essa é de palavras, de bebidas e também de convivência.
A cada ano, nove novos cronistas assumem seu lugar à mesa, com diferentes histórias — jornalistas, compositores, artistas plásticos ou gráficos, psicólogos, psiquiatras, professores, advogados… A preferência é dada àqueles que, de alguma forma, têm uma rotina profissional que envolve a escrita.
Mesa posta, o mosto vai se formando a partir das discussões sobre o gênero crônica, seus formatos, textos canônicos e estratégias de autores emblemáticos. Nove temas e nove formatos de crônicas são trabalhados e 81 crônicas, nove por autor, são maturadas durante os meses de oficina para compor a edição anual do livro “Santa sede — crônicas de botequim”. A produção é apresentada em um sarau e em dois lançamentos, um no próprio bar-sede e outro na tradicional Feira do Livro de Porto Alegre.
Oficina de histórias
Conduzidos por Rubem, os cronistas abrem seus textos para a análise dos colegas durante as oficinas. Nessa desafiadora tarefa, os oficinados encontram no bar um espaço mais acolhedor. “Às vezes até uma crítica mais forte é melhor compreendida em um ambiente em que as pessoas se tornam amigas. A mesa de bar, a cerveja, essa troca desarma os espíritos”, observa Penz. [...]
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